quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

VOCÊ É O QUE VOCÊ VESTE?

Neste primeiro post quero contar a "gota d´água" que me motivou a lutar por aquilo em que acredito em relação ao que se convenciona chamar "educação" - liberdade, respeito, democracia, participação.

Ontem, terça-feira, 1 de dezembro de 2009, foi o dia determinado pela direção do Colégio Pedro II Unidade S. Cristóvão para que pais ou responsáveis fossem até à escola para a renovação de matrícula - como se isso fosse realmente necessário em se tratando do fato de minha filha ter 15 anos e estar no nono ano do primeiro grau, ter carteira de identidade e CPF, o que a torna candidata a contribuinte. Mesmo questionando, fui. Isso após preencher ZILHÕES de formulários - foram SETE ASSINATURAS MINHAS NO TOTAL, e isso ocorrer praticamente TODOS OS ANOS - e tirar mais seis fotos 3x4 de minha filha. Como pedem fotos todos os anos e minha filha está há 9 anos lá, há um lindo "portrait" no CP2 com 54 fotos da minha pimpolha.

Mesmo tendo sofrido outras vezes o problema - "são normas do colégio" -, resolvi acreditar que, num calor escaldante no Rio de Janeiro, ir de bermuda jeans cerca de 5 dedos abaixo dos meus joelhos e sandália não seria problema. Afinal, a saia com a qual minha filha vai à escola - e não só a minha - é bem mais curta que isso. Fora mulheres, não estudantes, com saias curtas ou bermudas acima do joelho, que sempre vi circulando livremente nas instalações.

Mas, ledo engano, fui barrado. "De bermuda não pode", disse o segurança, cumprindo ordens "da direção". E depois de gritos, argumentações, humilhação explícita - questionei uma mulher que entrou com uma bermuda 5 dedos acima do joelho, e escutei de um dos seguranças que "ela era autoridade", e a própria, aos gritos, no corredor, me disse que eu sabia que a regra do colégio impedia que homens entrassem de bermuda -, consegui autorização para entrar, mas somente na unidade II - o CP2 de S. Cristóvão é dividido em 3 unidades: 1 (CA ao quinto ano), 2 (sexto ao nono ano) e 3 (segundo grau). Como minha filha está indo para o segundo grau, o segurança deixou claro que a Unidade 3 não havia autorizado minha entrada, e que eu voltasse no dia seguinte, "porque eles abririam uma exceção e fariam o favor de renovar a matrícula da minha filha no dia seguinte ao determinado por eles.

Saí e fiquei de voltar. Mas pensei bastante e resolvi não voltar hoje, quarta, 2 de dezembro, por 2 motivos: um, infelizmente não é o CP2 que paga as minhas contas, e tenho que trabalhar; dois, porque seria absurdo continuar aceitando essa imposição sexista, preconceituosa e machista. Minha filha pode mostrar as coxas; as mulheres em geral podem; os homens, não - aliás, sequer os tornozelos, já que a minha "bermuda do pecado" batia no meio da minha canela.

Este fato foi o estopim, mas não a única razão. Por isso convido a todos que conhecem o CP2 para participar desse movimento. Não quero libertinagem, não quero oba-oba, não quero ser recebido com tapete vermelho. Quero apenas que o CP2 seja democrático e se preocupe menos com roupas e mais com sua qualidade de ensino e infraestrutura. Olhem as notas da Prova Brasil, do Ideb e do Enem. E qualquer visita ao colégio é suficiente para ver o estado das instalações. Mas, homens, por favor: se forem de bermuda, ainda que seja aquela cargo, compridona... bem, vocês vão ficar a ver navios - e mulheres com roupas bem curtas entrando no colégio sem problemas.

Um comentário:

  1. grande Alexandre, parabens pela iniciativa.
    não tenho vinculos com essa instituicao, mas, como educador, espero que ela realmente retome seus dias de gloria, nao se agarrando a um passado impossivel de resgatar, mas evoluindo para aplicar as melhores praticas existentes hoje.
    essa historia da vestimenta nao é exclusiva do CP2, eu comprei essa briga em 1980 na EM UFRJ, mas confesso que la nao obtive exito.
    esse fato apenas demonstra um perfil arcaico apegado a regras criadas em um passado longinquo, que na maioria das vezes, nao se sabe quem ou porque foram criadas, mas escondem-se sobre o argumento de que "sao regras" ou "sempre foi assim", e quando regras administrativas sao perpetuadas sem motivos, provavelmente a parte didatica da instituicao segue o mesmo ritmo, fato lamentavel...

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